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É urgente o Amor,É urgente um barco no mar.É urgente destruir certas palavrasÓdio, solidão,crueldade,alguns lamentos,muitas espadas.É urgente inventar alegria,multiplicar os beijos, e as searas,é urgente descobrir rosas e riose manhãs claras.Cai o silêncio nos ombros,e a luz impura até doer.É urgente o amor,É urgente permanecer.Eugénio de Andrade
"Nada a fazer amor, eu sou do bando
Impermanente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
Já as folhas me ofuscam macilentas;
E vou com as andorinhas. Até quando?
A vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.
Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera:
Andorinha indemne ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto."Natália Correia (1923-1993)
"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..." Fernando Pessoa - 70º aniversário da sua morte
"Quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome.
Quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.
Este amor é de guerra. (De arma branca).
Amando ataco amando contra-atacas
este amor é de sangue que não estanca.
Quatro letras nos matam quatro facas.
Armado estou de amor. E desarmado.
Morro assaltando morro se me assaltas.
E em cada assalto sou assassinado.
Quatro letras amor com que me matas.
E as facas ferem mais quando me faltas.
Quatro letras nos matam quatro facas."
Manuel Alegre (1936)
"Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,
quando azuis irrompem
os teus olhos
e procuram
nos meus navegação segura,
é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,
pelo silêncio fascinadas"
EUGÉNIO DE ANDRADE
Se a minha amada um longo olhar me desseDos seus olhos que ferem como espadas,Eu domaria o mar que se enfureceE escalaria as nuvens rendilhadas.Se ela deixasse, extático e suspensoTomar-lhe as mãos mignonnes e aquecê-las, Eu com um sopro enorme, um sopro imensoApagaria o nome das estrelas.Se aquela que amo mais que a luz do dia,Me aniquilasse os males taciturnos,O brilho dos meus olhos venceriaO clarão dos relâmpagos nocturnos.S'ela quisesse, no azul do espaço,Casando as suas penas com as minhas,Eu desfaria o sol como desfaçoAs bolas de sabão das criancinhas.Se a Laura dos meus loucos desvariosFosse menos soberba e menos fria,Eu pararia o curso aos grandes riosE a terra sob os pés abalaria.Se aquela por quem já não tenho risosMe concedesse apenas dois abraços,Eu subiria aos róseos paraísosE a lua afogaria nos meus braços.S'ela ouvisse meus cantos moribundosE os lamentos das cítaras estranhas,Eu ergueria os vales mais profundosE abalaria as sólidas montanhas.E se aquela visão da fantasiaMe estreitasse ao peito alvo como arminho,Eu nunca, nunca mais me sentaria`Às mesas espelhentas do Martinho.Cesário Verde in O Livreo de Cesário VerdeBiblioteca Ulisseia de Autores Portugueses