sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Durmo ou não?


"Durmo ou não? Passam juntas em minha alma
Coisas da alma e da vida em confusão,
Nesta mistura atribulada e calma
Em que não sei se durmo ou não.

Sou dois seres e duas consciências
Como dois homens indo braço-dado.
Sonolento revolvo omnisciências,
Turbulentamente estagnado.

Mas, lento, vago, emerjo de meu dois.
Disperto. Enfim: sou um, na realidade.
Espreguiço-me. Estou bem... Porquê depois,
De quê, esta vaga saudade?"


Fernando Pessoa

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Roseline

"Moi, je sais ta chanson
Roseline.
Tu chantais, tu pleurais
Roseline
Et la mer écoutait
Sans rien dire
La chanson de ton coeur
Roseline.
Une larme, un baiser
Une larme
Sur le sable est tombée...
Une larme
Douce et pure
Et plus belle qu'une étoile,
Sur le sable est tombée
Une larme.

Chante encore,
Pleure encore,
Roseline
Que c'est bon,
Que c'est doux,
Roseline
De chanter et de pleurer
Quand on aime.
De chanter et de pleurer
Roseline.
De chanter et de pleurer
Roseline.
Roseline"


(Chanson de Marie Laforêt)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Et Maintenant

"Et maintenant que vais-je faire
De tout ce temps que sera ma vie
De tous ces gens qui m'indiffèrent
Maintenant que tu es partie

Toutes ces nuits, pourquoi pour qui
Et ce matin qui revient pour rien
Ce cÂœur qui bat, pour qui, pourquoi
Qui bat trop fort, trop fort

Et maintenant que vais-je faire
Vers quel néant glissera ma vie
Tu m'as laissé la terre entière
Mais la terre sans toi c'est petit

Vous, mes amis, soyez gentils
Vous savez bien que l'on n'y peut rien
Même Paris Paris Paris crève d'ennui
Toutes ses rues me tuent

Et maintenant que vais-je faire
Je vais en rire pour ne plus pleurer
Je vais brûler des nuits entières
Au matin je te haïrai

Et puis un soir dans mon miroir
Je verrai bien la fin du chemin
Pas une fleur et pas de pleurs
Au moment de l'adieu

Je n'ai vraiment plus rien à faire
Je n'ai vraiment plus rien
Je n'ai vraiment plus rien à faire
Je n'ai vraiment plus rien
Rien
Rien"


cantada por Grégory Lemarchal

PÁLIDA E LOIRA

Morreu. Deitada no seu caixão estreito,
Pálida e loira, muito loira e fria,
O seu lábio tristíssimo sorria
Como num sonho virginal desfeito.

Lírio que murcha ao despontar do dia,
Foi descansar no derradeiro leito,
As mãos de neve erguidas sobre o peito,
Pálida e loira, muito loira e fria...

Tinha a cor da rainha das baladas
E das monjas antigas maceradas,
No pequenino esquife em que dormia...

Levou-a a Morte em sua garra adunca!
E eu nunca mais pude esquecê-la, nunca!
Pálida e loira, muito loira e fria...

António Feijó - Poesias Completas
Edições Caixotim

Pedra Filosofal (Versão 2)



Manuel Freire

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

AS PÉROLAS

Abraçadas aos rochedos
Entre as algas e os corais,
Ouvindo estranhos segredos
No coro dos vendavais,

Nas grandes conchas prateadas
Vão-se as pérolas coalhar,
Como as lágrimas choradas
Pela Aurora, sobre o Mar...

***

Assim no mar do meu peito
Que imensa angústia devora,
Se acaso aparece a aurora
Do teu olhar satisfeito,

Esse límpido fulgor
Faz coalhar no coração
Com as lágrimas do Amor
As pérolas da Paixão!...


António Feijó (O poeta que morreu de amor) - Poesias Completas
Edições Caixotim

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Confiança

"O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova..."


Miguel Torga
Retirado de: http://eternapoesia.blogspot.com

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

CONQUISTA

Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou, e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga - Cântico do Homem
Coimbra

PRISÃO

Canta dentro de mim a confiança
Da grande multidão silenciosa
Que me rodeia.
Move-se uma epopeia
Na rasa solidão do meu destino.
Como um búzio anodino
Que na praia ressoa
A pancada da onda que magoa
As penedias,
Assim eu tenho melodias
Emparedadas
No coração.
Pudesse a concha, como um fruto cheio
De fecundas doçuras desejadas,
Abrir-se no areal de meio a meio
E libertar as notas abafadas!

Miguel Torga - Cântico do Homem
Coimbra

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Arma secreta

"Tenho uma arma secreta
ao serviço das nações.
Não tem carga nem espoleta
mas dispara em linha recta
mais longe que os foguetões.

Não é Júpiter, nem Thor,
nem Snark ou outros que tais.
É coisa muito melhor
que todo o vasto teor
dos Cabos Canaverais.

A potência destinada
às rotações da turbina
não vem da nafta queimada,
nem é de água oxigenada
nem de ergóis de furalina.

Erecta, na noite erguida,
em alerta permanente,
espera o sinal da partida.
Podia chamar-se VIDA.
Chama-se AMOR, simplesmente."


António Gedeão, Poesias Completas (1956-1967),
Lisboa, Portugália Editora, 1975, 5.ª ed.


Retirado de: http://pracadapoesia.blogspot.com

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Vida tão estranha

"São de veludo as palavras
Daquele que finge que ama
Ao desengano levo a vida
A sorte a mim já não me chama

Vida tão só
Vida tão estranha
Meu coração tão mal tratado
Já nem chorar me traz consolo
Resta-me só o triste fado

A gente vive na mentira
Já nem dá conta do que sente
Antes sozinha toda a vida
Que ter um coração que mente"


Rodrigo Leão

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Urgência de ser

Urgência de ser,
num desejo infinito,
num querer sem limites...
Vazios contíguos
de espaços, sem memória,
sem compassos de espera,
desespero, escapatória...
Suporte de essência
em viela simplória
de nostálgia, estória,
numa presença ausente,
de indefinível esperança,
de incansável persistência...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ah, um Soneto...

"Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...

No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.

Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.

Mas — esta é boa! — era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação? ..."


Álvaro de Campos, in "Poemas
"
Heterónimo de Fernando Pessoa