domingo, 31 de janeiro de 2010

Te siento

Te siento cada dia rozándome invisible
sutilmente impalpable.
Y aunque sé que siempre te he llevado conmigo
eres siempre la suave, dulcemente imposible
lejania luminosa...

Te siento cada dia cantar, mas no sé donde.
Eres algo que vive más allá de mi mismo
y aunque siempre eres nube y horizonte lejano
senti tu beso sobre mi alma!

Mi espiritu solitario te sueña en todas las cosas
Mi alma te busca tras toda emoción
Mi camino está lleno de tu nombre!
Lejana!...Dónde estás?...Dónde estás?

Renato Huerta

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Como açucena



Como açucena, abre-se o teu rosto
Por sobre a doce, tímida paisagem;
Serena imagem
Na manhã de Agosto.

Como magnólia, vertes o perfume
Das tuas ancas sobre o pinheiral;
Ávido de lume,
Casto e sensual.

Como pinho selvagem, te recebo
E amo no chão de areia ensolarado;
Ingénuo efebo
Deslumbrado.


Daniel Filipe

domingo, 24 de janeiro de 2010

Chamamento

"Da margem do sonho
e do outro lado do mar
alguém me estremece
sem me alcançar.

Um bafo de desejo
chega, vago, até mim.
Perfume delido
de impossível jasmim.

É ele que me sonha?
Sou eu a sonhar?
Sabê-lo seria
desfazer, no vento,
tranças de luar.
Nuvens,
barcos,
espumas
desmancham-se na noite.

E a vida lateja, longe,
num outro lugar."


Luísa Dacosta in
Cem Poemas Portugueses no Feminino,
Terramar

sábado, 23 de janeiro de 2010

Foste o beijo melhor da minha vida

Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior... Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prémio e meu castigo,
baptismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto...

Olavo Bilac

Rodrigo Leão - Happiness


cortesia de www.letras.com.br

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Condenado estou a te amar

Condenado estou a te amar
nos meus limites
até que exausta e mais querendo
um amor total, livre das cercas,
te depeça de mim, sofrida,
na direcção de outro amor
que pensas ser total e total será
nos seus limites da vida...

O amor não se mede
pela liberdade de se expor nas praças
e bares, em empecilho.
É claro que isto é bom e, às vezes,
sublime.
Mas se ama também de outra forma, incerta,
é este o mistério:

- Ilimitado o amor às vezes se limita,
proibido é que o amor às vezes se liberta.

Affonso Romano de Sant'Anna

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Era o último amor

Era o último amor. A casa fria,
os pés molhados no escuro chão.
Era o último amor e não sabia
esconder o rosto em tanta solidão.

Era o último amor. Quem adivinha
o sabor pela escuridão?
Quem oferece frutos nessa neve?
Quem rasga com ternura o que foi verão?

Era o último amor, o mais perfeito
fulgor do que viveu sem as palavras.
Era o último amor, perfil desfeito
entre lumes e vozes passadas.

Era o último amor e não sabia
que os pés à terra nua oferecia.

Luís Filipe Castro Mendes

Eu sei e você sabe

Eu sei e você sabe
Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe
Que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham a você.

Assim como o Oceano, só é belo com o luar
Assim como a Canção, só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem, só acontece se chover
Assim como o poeta, só é bem grande se sofrer
Assim como viver sem ter amor, não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você!

Vinicius de Moraes

Quando eu nasci

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava,
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...

José Régio

Eu pronuncio o teu nome

Eu pronuncio o teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!

Garcia de Lorca Nascido em 1898 num pequeno lugar da Andaluzia e foi assassinado em Granada com um tiro na nuca em 1936. Acusação de um deputado católico: "Ele seria mais perigoso com a caneta do que outros com as armas".

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Pela luz dos olhos teus

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só pra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Que a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

Vinicius de Moraes

SONETO DE FIDELIDADE

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Que vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei-de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Canção sem ti

"Sem ti
que me importa que o sol mude de cor
sem ti
já não me interessa mais seja o que for
sem ti
é como um jardim sem uma flor
viver sem ti
não é viver meu amor

Viver sem ti
é como se já nada mais houvesse
sem ti
é como se outro dia não nascesse
viver sem ti
é como se o meu peito não batesse
quero dizer
viver sem ti é morrer

Sem ti
sem a cama dos teus braços
ficarei à tua espera
porque sem ouvir teus passos
nunca mais é primavera

Viver sem ti
é pior que enlouquecer
não sentir nenhuma dor
é lutar por te esquecer
e esquecer-te meu amor
é não viver

Sem ti
podem morrer estrelas no universo
sem ti
não poderei cantar nem mais um verso
sem ti
nenhuma madrugada há-de chegar
viver sem ti
é não poder mais amar
...
é como se já nada mais houvesse
...
é como se outro dia não nascesse
...
é como se o meu peito não batesse
quero dizer
viver sem ti é morrer!"

TONICHA(P. de Senneville/O. Toussaint)
(Arranjo: Pedro Osório)

sobre "A Comme Amour"

Quando eu morrer

Quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti.
Cobre o meu corpo frio com um desses lençóis
que alagámos de beijos quando eram outras horas
nos relógios do mundo e não havia ainda quem soubesse
de nós; e leva-o depois para junto do mar, onde possa
ser apenas mais um poema - como esses que eu escrevia
assim que a madrugada se encostava aos vidros e eu
tinha medo de me deitar só com a tua sombra. Deixa

que nos meus braços pousem então as aves (que, como eu,
trazem entre as penas as saudades de um verão carregado
de paixões). E planta à minha volta uma fiada de rosas
brancas que chamem pelas abelhas, e um cordão de árvores
que perfurem a noite - porque a morte deve ser clara
como o sal na bainha das ondas, e a cegueira sempre
me assustou (e eu já ceguei de amor, mas não contes
a ninguém que foi por ti). Quando eu morrer, deixa-me

a ver o mar do alto de um rochedo e não chores, nem
toques com os teus lábios a minha boca fria. E promete-me
que rasgas os meus versos em pedaços tão pequenos
como pequenos foram sempre os meus ódios; e que depois
os lanças na solidão de um arquipélago e partes sem olhar
para trás nenhuma vez: se alguém os vir de longe brilhando
na poeira, cuidará que são flores que o vento despiu, estrelas
que se escaparam das trevas, pingos de luz, lágrimas de sol,
ou penas de um anjo que perdeu as asas por amor.

Maria do Rosário Pedreira

Sexta-feira à noite

Sexta-feira à noite
Os homens acariciam o clitóris das esposas
com os dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
contam dinheiro, papéis, documentos
e folheiam nas revistas
a vida dos seus ídolos.

Sexta-feira à noite
os homens penetram as suas esposas
com tédio e pénis.
O mesmo tédio com que todos os dias
enfiam o carro na garagem,
o dedo no nariz
e metem a mão no bolso
para coçar o saco.

Sexta-feira à noite
os homens ressonam de borco
enquanto as mulheres no escuro
encaram o seu destino
e sonham com o príncipe encantado.

(Marina Colasanti)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Adeus, até à vista

"Disse-te adeus, até à vista,
Só tu não reparaste nos meus olhos....
Disse-te adeus, mas trouxe-te comigo
E não foram só os teus olhos
Vieste toda
Disse-te adeus com lágrimas que não viste
Mas vieste dentro de mim
Amarrada em meu coração
Disse-te adeus com a mão
Mas parti contigo
No meu sonho
Na nossa ilusão
E aquele beijo que me atiraste
Tenho-o aqui guardado
Como um tesouro"


Raferial

domingo, 3 de janeiro de 2010

Estrada

"Meu amor não quero mais palavras rasgadas.
Nem o tempo cheio dos pedaços de nada.
Não me dês sentidos para chegar ao fim.
Meu amor... só quero ser feliz.
Meu amor não quero mais razões p'ra apagar.
O que nasce e renasce e nos faz acordar.
A loucura faz medo se for medo o teu chão.
Mas é ar e é terra dentro do coração.
É ar e é terra dentro do coração.
Meu amor não quero mais silêncio escondido.
Nem a dor do que cai em cada gesto ferido.
Quero janelas abertas e o sol a entrar.
Quero o meu mundo inteiro dentro do teu olhar.
Eu quero o meu mundo inteiro dentro do teu olhar.
E hoje vê a estrada é feita para seguir.
E hoje sente a vida é feita de sentir.
E hoje vira do avesso o mundo e vê melhor.
Deste lado é mais puro.
É teu, é tão maior.
Deste lado é mais puro.
É meu, é tão maior.
(…)"


Mafalda Veiga,
in Estrada

sábado, 2 de janeiro de 2010

Ponto de orvalho

"Nem se chega a saber como
um inusitado sorriso,
um volver de olhos doentes,
um caminhar indeciso
e cego por entre as gentes,
chamam a si, aglutinam,
essa dor que anda suspensa
( e é dor de toda a maneira)
como o vapor se condensa
sobre núcleos de poeira.
É essa angústia latente
boiando no ar parado
como um trovão iminente,
que em muda voz se pressente
num simples olhar trocado.
Essa angústia universal,
esse humano desespero,
revela-se num sinal,
numa ferida natural
que rói com lento exagero.
Não deita sangue nem pus,
não se mede nem se pesa,
não diz, não chora, não reza,
não se explica nem traduz.
A gente chega, respira,
olha, sorri, cumprimenta,
fala do frio que apoquenta
ou do suor que transpira,
e pronto, sem saber como,
inútil, seco, vazio,
cai na penumbra do rio,
emerge, bóia, soçobra,
fácil e desinteressado
como um papel que se dobra
por onde já foi dobrado."


António GedeãoObra Poética
Edições João Sá da Costa, 2001