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Quando enfim, pela tarde, te forem casar
Como quem vai levar a menina ao emprego,
Eu hei-de recolher-te uma vaga tristeza
Disfarçada no teu rosto,
Que a beleza mais tua, é gerada
Num desgosto!
E hei-de ouvir gemer uma saudade
Que te ficou sozinha,
Desprezada,
Nessa boca florida e tolhida
Para dizer a verdade!
Mas não posso...
Ai, não posso dizer nada,
Ao frágil corpo ardente de argila queimada
Que a minha mão ansiosa modelou!
E o silêncio de então ficará nos dois versos
Dum poema sublime,
Incompleto
Que se queimou!
E os sinos lamentarão
Indecisos...
E murcharão sorrisos
De inquietação.
Hão-de bater as tuas portas, longamente,
Sem se poder saber quem as empurra!...
Hão-de fechar-se as portas
Brutalmente,
Como ferros de prisão...
- E silenciosamente
Como tampas forradas de caíxão!
E à noite,
Pelos teus corredores,
Vaguearão penitentes,
Medonhos,
Os fantasmas de amores escondidos
Em teus sonhos!
Políbio Gomes dos Santos (Ansião, 1911-1939) in Poemas Campo das Letras
Que um abraço me bastasse
Há 3 anos