quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Não Sei

"não sei

se o nevoeiro não abrir
como posso eu encontrar caminhos
por entre esses silvados

as valas não as sinto
nem os chocalhos dão sinais

não sei se o nevoeiro

que as árvores soltam-se do cinzento
só por momentos

o silêncio tapa-me a visão
não ouço o horizonte

posso ficar assim
parado sem medidas
flutuando entre o orvalho e a erva
silencioso e solto"




Henrique Ruivo
in branco azul ocre

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

I Dreamed a Dream



"I dreamed a dream in time gone by
When hopes were high and life worth living,
I dreamed that love would never die
I dreamed that God would be forgiving

Then I was young and unafraid,
When dreams were made and used and wasted
There was no ransom to be payed,
No song unsung, no wine untasted

But the tigers come at night,
With their voices soft as thunder,
As they tear your hope apart
As they turn your dreams to shame

And still I dreamed he'd come to me
And we would live the years together,
But there are dreams that cannot be
And there are storms we cannot weather

I had a dream my life would be
So different from this hell I'm living
So different now from what it seemed
Now life has killed the dream I dreamed"

domingo, 20 de dezembro de 2009

Não posso adiar o amor

"Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração."



António Ramos Rosa

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Memória/Memórias

"A memória é, assim como um album que nos restitui mais ou menos intactos os fragmentos da experiência" (François Pire)

"(...) Com o tempo, um princípio de entropia corrói a recordação, que fica como que roída pela traça, lacunar, se desafia e, in extremis,quando a queremos reconstituir passados tantos anos, só nos restam bocados incertos..."(Morin,1987. As grandes questões do nosso tempo
Ed. Notícias, pp. 17)

"Como todas as coisas do Universo, a memória sofre a degradação e a desintegração, o que se chama esquecimento (...) A diminuição da memória é ininterrupta. A própria memória tende a tornar-se lacunar, incorrecta, enganadora. Além disso, como vimos, sofre profundamente o efeito das forças de recalcamento, que expulsam a recordação incómoda, e das forças de transfiguração e mitologização, que legendarizam a recordação" (ibidem)

"Recordar é reconstruir, 'aprender no coração ou literalmente dar de novo ao coração'" (Cabral, 1998. Pensar a emoção, Ed. Fim de Século, pp. 193)

"Uma boa memória é útil; mas também o é a capacidade de esquecer" (Myers)